sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ensaio sobre a Dor

Sentir dor, sofrer... Tudo isso faz parte em algum momento de nossa existência! Mas para que fugir tanto da dor?
No exato momento de nosso nascimento viemos ao mundo pela dor, viemos ao mundo provocando dor no outro, machucando o outro que nos nutriu durante longos 9 meses de nossa vida fetal. Não há nada mais simbólico e significativo do que este momento para expressar nossa entrada no mundo, em um mundo de dor, que certamente causaremos dor e vamos senti-la também por intermédio de alguém... Mas neste rito de passagem, onde a dor é a marca primeira do nosso existir, estrelamos na vida chorando e acabamos nessa vida com os demais chorando por nós! Eis que o breve espaço entre o nascer e o morrer compreende o existir, compreende a vida...
Partindo para uma análise um pouco mais precisa e filosófica, podemos conceituar a dor como presença e aquilo que poderíamos chamar de Prazer ou Alegria como seu pálido contraste, tal como a concepção de Guerra e Paz... A primeira é presença, é sentir, é intensa, é corrosiva mostra sua face; a outra é ausência da primeira, a ausência de conflito, ausência de dor... Partimos sempre da definição da dor para exemplificar o que é prazer, sempre engendramos o valor destes valores a partir de uma antítese daquele que se impõe... Mas será então que não deveríamos mudar o foco?!
Nietzsche, filósofo alemão, debruçou-se sobre estas questões, e chegou a afirmar que desejava a todos aqueles que amava a mais tenebrosa das dores...por quê?
No pensamento deste filósofo devemos basear nossa valoração naquilo que se afirma, não naquilo que depende de outro para afirmar-se, desta forma devemos viver afirmando e aceitando a dor, pois não há como dela fugir, ela não é o acaso da vida, ela é a própria vida, os momentos de prazer que são seu cessar, que são as pausas e ausências da dor! Eis que agora alguém poderia dizer: Mas quanto pessimismo diante da vida!
Mas analise bem esta questão: Aceitar a vida da forma como ela se evidencia, sem procurar alegorias ou subterfúgios não é uma forma de ser otimista diante do viver e saber usufruir destas pausas de dor de forma mais intensa possível?
Afirma Nietzsche, que o problema não é sentir dor, mas saber o que fazer com ela. Eis uma frase desafiadora! O que podemos fazer na vida com a dor? Deveríamos subterfugiar-se dela e fingir que nada acontece e que vamos alcançar recompensas em um reino Metafísico, onde crianças brincam em bocas de Leões e isso não lhe causa mal algum, algo além-do-mundo? Será que esta forma de encarar a vida não é mais pessimista? Passar por ela sem deixar marcas, sem deixar sinais, sempre almejando um além, um encontro egoísta com aqueles que julgamos ser "pessoas de bem", passar pela vida sem sentir o valor da vida, sem sentir a própria vida??
Eis que minha defesa da dor se evidencia no processo de Filosofar. Toda a filosofia nasce de uma agonia, de um assombro, de uma inquietação! Não há Filosofia que nasce com a benevolência, elas buscam suprir a dor pela benevolência... E isto muda tudo, pois o principal objetivo destas é suprir a dor, suprir as tristezas... Mas porque se delas podemos extrair tantos benefícios? E não limito apenas ao beneficio de saber aproveitar o cessar da dor, mas também as produções que da dor surgem, como lindas poesias, como ilustres textos filosóficos, como grandes avanços científicos... Tudo isto é pela dor! Não devemos repudiá-la, mas devemos saber o que fazer com ela, pois na dor parece que nossas feridas existenciais se abrem e podemos ser mais francos e sinceros conosco e com o mundo e é neste momento que estamos quase próximos da experiência real da vida e até mesmo do filosofar... Pois viver é filosofar e tanto de um como do outro a dor faz parte...
Isto não significa um masoquismo ou degradação da nossa existência, mas significa que devemos parar e refletir sobre o que significa nossa dor e o que podemos fazer com ela... Livre de subterfúgios!
Devemos sentir a dor, chorar se necessário e expandir ao máximo nosso sentimento, para depois saber o que fazer com ela... Coisas como ter dois minutos inexpressíveis de sensação, quando mães que acabam de dar a luz, sentem o primeiro contato com seus bebês ou coisas como um texto filosófico... Assim como este!