quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Peripécias da Ignorância
Sentado… No meio da multidão
Ajusto-me confortavelmente a minha poltrona, abro minha mochila
E de lá retiro Werther de Goethe…
Os sofrimentos desse jovem… Ah… Pobre iludido pelos sentimentos…
Distraído por tanta angustia desse Jovem, tão previsível quanto à passagem dos solstícios e equinócios, observo a minha volta…
Lado a lado com Goethe…Uma mulher lendo uma revista..dessas que se fala sobre a vida de (sub)celebridades…
Que tamanha afronta… Goethe pareado com fofocas…
Cansado de sofrer junto de Werther… Cerro meu livro e decido observar a minha volta com mais atenção
Enquanto vibra de emoção ao ler a síntese de sua novela favorita e descobrir com quem tal fulano esta namorando
Uma moça ali perto, elabora um discurso prolongado e de certa forma irritante, sobre as questões expressas na sua novela favorita
Outro, logo ali, brinca com os cadarços de seu tênis…
Cansado e tão entediado quanto ao ler os devaneios de Werther… Retiro de minha mochila… Ecce homo de Nietzsche…
E ao ler sobre moral e vermes… Inevitavelmente ouço essa mulher narrar para sua amiga… Até então calada, ouvindo sua música…
-Olha isso… Que triste… Eles terminaram…
E a amiga responde: - Que triste… Davam-se tão bem, era um casal tão lindo!
Perguntei-me, se as pessoas em questão eram seus amigos ou parentes… Mas logo vi que não… Dei um breve suspiro de tristeza…
E se não bastasse… Retira de sua bolsa um jornal popular… E diz: - Olha quanto morte né?! Que Deus os proteja!
Ora… Tamanho meu espanto… Não teriam avisado aquela pobre mulher interessada nas discussões fantásticas (?) do mundo de suas (sub)celebridades que também Deus havia morrido?
Mas não serei eu a avisá-la, pensei… Não desejo ser o anunciador de trágicas noticias…
Mas foi há tanto tempo…como pudera ela não saber de tal acontecido?
E como pudera Deus cuidar… Se não soube ele se defender de nossas investidas… Que o fizeram perecer… Que nos tornaram responsáveis pela morte dele… Como mesmo afirmou Nietzsche?
Nesse momento, quase próximo a minha parada… Percebi!
Aquela mulher vivia bem assim… A ignorância diante da morte de Deus a faz bem…
Teria o direito de estragar tamanha ignorância, em épocas de pura dissimulação, em tempos Natalinos? Privá-la de não ter esse conhecimento tão angustiante e desesperador?
Eis que a porta se abre… E pensativo me retiro…
É… A ignorância às vezes é um bem!
terça-feira, 29 de setembro de 2009
E assim.... Sou Filósofo...
O que me prende a Filosofia é o mesmo motivo que me afasta dela!
Eis que ao repudiar o projeto mais abrangente e difundido, reclamando pela necessidade de dar uma existência palpável a teorias filosóficas, reclamando pela concretude, pelo externalismo…
Posso perceber o estratagema mental vacilante que me leva, sem perceber, ao caminho que repudio!
Ao me tornar filósofo e desejar a evidência científica ao lugar de meras intuições, me torno filósofo novamente pelo desejo fervoroso daquilo que me mantenha a certeza, mesmo que provisória…
Ao ser filósofo e negar a Filosofia me torno mais filósofo… A Filosofia é a perfeita sinfonia da vida que se consome e é abundante, nunca deixando de ser vida, nunca deixando de ser Filosofia…
Passamos por Nietzsche, filósofo do martelo, destruidor de ídolos de pé de barro, mas que ao mesmo tempo que destrói, deseja construir em si… Mais ídolos?
Ao tempo que me percebo preso à aquilo que mais repudio e que mais me é próprio…
Ao tempo que me escondo no escuro do quarto em busca do gato nunca encontrado, que perpetuo nas garras desta roda, que ao me parecer que muda, noto que estou no mesmo ponto!
Eis o que é a Filosofia: Uma artimanha articulada contra ninguém mas que atinge a todos, um oceano em uma gota de água, um emaranhado…
Um labirinto, recheado de novidades velhas sobre um pedestal embolorado… Que me coloca sobre um pedestal imaginário… e real…
Esse é meu motivo: Minha arrogância, meu orgulho, meu desejo de poder ser o fundamento, meu desejo de ser endeusado, divinizado, sem nunca ser casto ou santo, meu desejo de estar na base… Disseminando…
Meu desejo de ser Übermensch…