domingo, 2 de agosto de 2015

E não é assim mesmo que as coisas são?


As circunstâncias da vida, as vezes, parecem debochar da nossa cara!

Tudo é tão inconstante e tão mutável que quase não podemos ter a certeza de crenças já bem justificadas e estabelecidas em nossa mente!

Eu sempre tão cético quanto muitas questões na vida, sempre tão racional, tão calculado, tão controlado e ao mesmo tempo escravo de um futuro tão incerto, tão impreciso, tão mutável…tão vago!
Como é possível saber o que esperar de algo que nem sabemos o que é? O ideal é não esperar, vamos repetindo isso até se convencer!
A máquina do “e se fosse assim” ainda não foi inventada, talvez nem devêssemos pensar nela, dizem por ai (e eu sou um dos que repito) que devemos abrir-se para o novo, permitir-se fazer escolhas e aceitar as mudanças…

- “Parece tão simples falando assim” - Fui questionado

E não é que parece mesmo?

Só que não é! No fundo mudar sempre é um instinto suicida, é jogar-se de um penhasco sem a certeza que o paraquedas irá abrir, é correr o risco de dar com a cara no chão ou experienciar uma sensação incrível, sentindo o vento bater no rosto e pousar com segurança!

Então escolhe: Suba ao penhasco e se arrisque na sorte ou se quer saiba que existe uma possibilidade e viva sempre no chão!

Eu escolhi arriscar e pular do penhasco com a mochila nas costas, agora é esperar e ver se o paraquedas abre…

“Ah, pra que chorar, a vida é bela e cruel, despida. Tão desprevenida e exata, que um dia acaba” (Ritual - Cazuza)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

E tu, poeirinha da poeira

Uma das perguntas mais fundamentais que podemos fazer, para compreender nossa existência, é o que representamos neste Planeta. Para tal questão, vamos a alguns dados:

A Terra é um dos 8 planetas do sistema solar (sentimos saudades Plutão), seu diâmetro é aproximadamente 12.756km o que representaria em metros 12756000m. 

O que representamos na Terra diante de seu tamanho? 

Supondo que um indivíduo possua uma altura média de 1,67m, para facilitar a visualização, isso em quilômetros representa 0,00167km. Vamos para um cálculo simples:

12756 km -------------- 100% 

0,00167km ------------- X% 

X= 0,000013% 

Então, representamos pouco nesse planeta não? Vamos então comparar nosso querido Planeta a um Gigante de nosso sistema solar, que em diversas noites esta visível a leste, como uma estrela brilhante, o Planeta Júpiter.

Júpiter possui um diâmetro de 142.984km. Vamos a demonstração:

142984 km ------------- 100% 

12756 km ---------------- X% 

X= 8,92% 

Agora melhorou um pouco, a Terra representa aproximadamente 8% do maior Planeta do Sistema Solar, não somos tão ínfimos... Mas se a Terra inteira representa isso para Júpiter, o que nós representaríamos?

142984 km -------------- 100% 

0,00167 km ------------- X% 

X= 0,000011% 

Vamos tornar tudo mais divertido! Com um simples telescópio refrator que possuo, com uma abertura de 50mm, observei Júpiter. A imagem do planeta, embora pequena, é fascinante. É possível identificar o Planeta, uma pequena esfera luminosa e duas listras horizontais o cortando, o que na realidade são grandes traços de uma tempestade. E ainda com esse simples telescópio é possível ver 4 satélites (as luas do Planeta): Io, Ganimedes, Europa e Calisto.

A observação astronômica é fascinante, o entusiasmo gera a necessidade de conhecimento, de exploração. Muitas são as perguntas que podem surgir, em especial na mente de filósofos, quando se deparam com tal feito e uma delas, poderia ser: O quão grande deve ser o menor objeto a ser observado da Terra no Planeta Júpiter?

Existe um cálculo que é conhecido como o Critério de Rayleight, que nos ajuda com essa questão, ao menos para fornecer uma boa noção sobre tal interrogação.

Sem uma necessidade de demonstração dos cálculos, obtive um resultado de aproximadamente 8.153km, ou seja, o menor objeto que o telescópio citado consegue ver no Planeta Júpiter, deve ter no mínimo aproximadamente 8 mil quilômetros.

Incrível não? Aquela imagem na ocular do telescópio, um pequeno ponto luminoso com listras tem diversas vezes o tamanho de um ser humano e que mesmo admitindo um cálculo entre o menor observável no telescópio e a existência de um ser humano, obteríamos um resultando ainda ínfimo, 0,000020% desses 5,7% de Planeta que pode ser observável do Jardim de casa.

Somos pequenos diante do Universo. Aquele ponto brilhante que esta todas as noites no céu, nem mesmo um pequeno ponto como aquele somos representados para o Universo.

Contudo, talvez esse exercício tenha uma lição maior a nos ofertar, além de causar certa angústia e desespero diante do sentido da existência. Possivelmente uma forma de valorizarmos esse minúsculo ponto que somos e valorizarmos a existência de cada outro grão, como nós.


“A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira” (Nietzsche) 

"Vamos pedir piedade, pra essa gente careta e covarde"

A Igreja francesa pediu aos fieis que orem para que as crianças "deixem de ser objeto dos desejos e conflitos dos adultos para beneficiar-se plenamente do amor de um pai e de uma mãe". (Fonte: Terra)

Diante dos avanços sociais, científicos e filosóficos sempre percebemos um grupo que trilha o caminho oposto ao que se designa de evolução, em especial uma evolução social.
Nesse nicho notavelmente o papel das religiões é extremamente relevante, são as velhos dogmas de um livro embolorado que guiam o pensamento, por vezes retrogrado e mesquinho, dessas instituições.
Dizer-se portadora de um "boa nova", dizer-se detentora de um progresso e beneficio ao mundo, sacrificando assim o diferente em prol de seus benefícios estruturais não me parece tão agradável quanto a imagem que seguidamente é vendida.
Descartes afirmava que o bom senso é a coisa mais bem dividida do mundo, eu tenho minhas dúvidas com relação a isso, dado que para muitos é preferível ver crianças em abrigos, abandonas na rua, a sorte do mundo do que criada por casais homoafetivos. Valer-se de uma tendencia já ultrapassada, aos moldes da psicologia contemporânea, de que o individuo necessidade de uma estrutura familiar onde existem papeis bem definidos de um pai e uma mãe é no minimo viver alienado da realidade que nos cerca.
Os moldes daquilo que se compreende por família foram modificados, acompanhar essa mudança é obrigação que quem se propõe "arrebanhar ovelhas".
No mais, o que nos resta pedir a essa gente hipócrita, careta e covarde é piedade, mas não essa que eles esperam ter de seu deus. É uma piedade em um sentido mais profundo, piedade por permanecerem cegos a luz da evolução do mundo, piedade por seu anacronismo, dado que, sem dúvida alguma, ainda vivem no século das sombras.

[...] Lhes dê grandeza e um pouco de coragem [...]

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sem títulos e rótulos, a vida já tem muito deles!

Na vida, muitas vezes, somos condicionados a agir de forma empática, ou seja, colocar-se no lugar do outro para compreender o que podemos fazer de forma tal que minimize a dor de todos. Isso é uma atitude utilitarista valiosa e digna, entretanto, na vida, tudo deve ser equilibrado, como já dizia o filosofo, a virtude esta no meio, ou seja, colocar a posição do outro sempre acima da sua é perder a identidade! 
Por muitas vezes nem percebemos que nossas vidas são demasiadamente regradas pelo que esperam de nós, aquilo que esperam que sejamos! E não somente em um esfera da nossa existência, mas em todas elas. Ter uma visão de conjunto, pensar no impacto social, exigir de nossas atitudes responsabilidades sociais, familiares, éticas, entre outras palavras, “vestir-se de outro” é algo necessário mas evitar construir sua identidade por causa do outro é um preço muito caro a pagar! 
Pensar em todas as amarras, todas os determinismos, todos os valores “socados goela abaixo” por indivíduos que não possuem o menor vinculo real conosco, que não possuem conhecimento do que sentimos, do que falamos, do que somos ou até mesmo daqueles que nos conhecem e ainda assim tentam impor “certas verdades inquestionáveis” é perceber-se nauseado sobre a constituição do que somos! 
Uma hora é preciso sair do casulo, sentir-se livre dessas amarras e poder, dentro de alguns limites (sim, sempre teremos limites, a maior ilusão do mundo é acreditar na liberdade em absoluto), voar em direção ao que queremos, ao que desejamos ou mesmo ao encontro de nós mesmos, do ente bruto, sem as amarras! 
E como tudo o que vai contra o senso comum, contra a vontade vigente de um rebanho (a maioria), quando o voo livre for percebido, muitas pedras serão jogadas em sua direção! Sentir-se dono do seu caminho, dono de suas atitudes é muito mais do que dizer simplesmente isso é querer voar e sentir o vento batendo no rosto, é querer dizer o que te faz feliz sem medo de ser renegado ou das consequências que podem existir! 
A vida não é um grande exemplo de justiça, o conceito veio depois dela, a vida é muito mais reativa, muito mais em busca de equilíbrio, como tudo na natureza que busca estabilidade. As vezes fazemos os outros chorar, fazemos os outros sofrerem, temos atitudes que podem ser consideradas egoístas demais e esse outro, as vezes, é nós também…
Mas quem nunca teve alguma atitude egoísta? 
Egoísmo: “é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona.”
Quem nunca, em algum momento na sua vida, não colocou seus interesses a frente dos outros? Sejamos honesto na analise, todos somos egoístas em certa escala! Esse fato só se torna ruim quando nossas atitudes são todas assim, quando há desequilíbrio! 
Pensar que “o mundo gira em torno de si, tomando o eu como referência para todas as relações e fatos” é falta de sensibilidade com os demais, falta de empatia, um desequilíbrio!
Pensar que estamos todos no mundo, que cada existência é unica e intransponível, que devemos ser donos do nosso caminho, que nossas escolhas podem ser feitas com um brainstorming mas que não podemos esquecer que quem irá bater o martelo somos nós e, que as vezes pensar primeiramente em nossa existência é necessário é ser sensível consigo, é ser natural, humano, é ter equilíbrio entre a nossa existência e a existência do outro! 
Isso por vezes significa trilhar um caminho solitário interiormente, um caminho de buscas em recantos do nosso ente mais bruto, um caminho que nos faz perceber a aporia entre aquilo que eu sou e aquilo que esperam de mim, isto nos faz estabelecer o limite entre momentos solitários e de multidões, isso nos faz ter equilíbrio! 
Uma hora ou outra, vamos ter que optar por um lado ou outro e viveremos sempre assim, oscilando entre eles, em um momento sendo o que esperam de mim e outro sendo o que eu sou, podemos dizer que além de marcados para morrer, somos condenados a eterna oscilação do animal de bando e o animal solitário, uma esquizofrenia inerente a condição humana exigindo que sejamos mais do que extremos, que possamos legalmente ser bipolares (ao menos no que diz respeito a essa questão), ou seja, agora eu quero ficar no meu casulo e daqui a um minuto eu posso querer voar, ou vice-e-versa!

“Na solidão, o solitário se devora a si mesmo; Na multidão devoram-no inúmeros. Então escolhe.” (Friedrich Nietzsche)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Tecnologia e Mente: A Expansão dos Limites







Meu corpo é virgem em termos eletrônicos. Não faz parte de mim nenhum chip de silício, nenhuma implantação na retina ou no labirinto, e nenhum marca passo. E nem uso óculos (porém eu uso roupas), mas eu estou lentamente me transformando mais e mais em um ciborgue. E você também. (Andy Clark)



Você já parou para perceber o quanto somos dependentes de certos mecanismos que são externos a nosso aparelho empírico (material) para que possamos realizar um exercício mental mais satisfatório? Será que tal dependência evidencia algo diante de nossa condição humana?

Esses e outros questionamentos, o filósofo citado no início desta matéria se coloca, percebendo que estamos desde o nosso nascimento sendo inseridos em um universo que tende a transformar humanos em Ciborgues. Parece assustadora a ideia, dado que podem imaginar milhões de fios sendo inseridos em nosso organismo para que sejamos fundidos a máquinas com tecnologias avançadas, e assim passaremos a sucumbir diante do Império Tecnológico.

Nada é tão catastrófico quanto parece. Somos todos produtos de recursos e extensões mentais que facilitam nossas atividades e talvez até superem nossas expectativas. Para que possamos nos dar conta do quanto estamos nos fundido com a tecnologia, faça a seguinte pergunta a si mesmo: O que há em mim que me foi incutido pela própria natureza humana? Certamente você irá perceber que é somente seu corpo, seu aparato biológico, orgânico. E todo o resto? Roupas, brincos, celulares, maquiagens, computadores, lentes de contato, óculos, aparelhos dentais... Tudo isso é produto da tecnologia desenvolvida por nossas mentes, tudo isso é resultado de um exercício de gerações em busca de uma extensão fora dos nossos crânios, para além de nossos cérebros, produto da mente, com a qual a própria mente passa a coexistir e necessitar. Mente não é mais somente a atividade de nossos cérebros, mente também é sua calculadora, seu computador, sua caneta, sua linguagem, mente é também o mundo.

Estamos todos caminhando para esse cyber humano, as investigações acerca de nossos aparelhos cognitivos, de nosso cérebro e mente, cada dia mais se tornam consistentes e precisas, estamos nos fundindo com todo o universo alheio a nosso aparelho biológico, superando o dualismo entre o corpo e a mente, percebendo que embora nosso corpo possua mente, a mente não é só corpo, ela é mais que o corpo, ela é o mundo e toda sua matéria.

Não demorará o dia em que nossos corpos estarão metade vivos e metade ligados, respirando e trocando nossas baterias, entrando em um estágio pós-evolutivo, um estágio marcado pela Engenharia, Tecnologia, Informática, Neurociência...

Hipérboles a parte, tal avanço na condição humana embora possa parecer perigoso ou assustar, já o estamos realizando, de forma mais branda, seu ponto mais alto, será a superação do natural, a supremancia de mentes sobre as condições impostas pela natureza, levando nossos corpos para além de sua limitação biológica, proporcionando um ato evolutivo tal qual o animal que em bilhões de anos sofreu adaptações para sobreviver ao ambiente, nós faremos a nossa própria adaptação a qualquer ambiente que possa surgir, nós por ato de nossa vontade e por meio de nossas mentes, não mais ficando a mercê das contingências da natureza.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Liberdade de Expressão e Dignidade Humana



“A Dignidade Humana deve ser o limite do uso da Liberdade de Expressão”

(Jean Wyllys)

Estamos presenciando debates intermináveis sobre liberdade de expressão e direitos a minorias, onde diversos argumentos são expostos, tanto de um lado como de outro, de forma extrema em certas circunstâncias. O que de fato podemos fazer para compreender essa discussão e não sermos ludibriados por palavras travestidas de ideais de poder e expansão de popularidade?

Ironicamente, os movimentos LGBT e a movimento religioso, em especial cristão utilizam-se do mesmo artigo de nossa Constituição para validar suas premissas e conclusão: o Artigo 5° que diz:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Aqui vale ressaltar que todos concordam com o enunciado geral, nos incisos é que se diferencia o processo de interpretação do Artigo. O movimento religioso contra o projeto de lei que visa criminalizar homofobia utiliza-se basicamente dos seguintes incisos para dizer que tal lei, se aprovada, será inconstitucional:

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;


A argumentação que surge através de uma interpretação dos incisos citados, por movimentos contra o projeto de Lei (PL122/06), é de que aprovando uma lei que criminaliza a expressão dos movimentos religiosos ou não sobre sua perspectiva acerca da homossexualidade significa vetar o direito garantido pela constituição de nosso país de poder expressar sua posição sobre determinado tema.

A argumentação, de certa forma confusa, tem como fundamento a prática homossexual e não propriamente o homossexual, isto é, segundo os representantes deste movimento, não há nada contra os indivíduos, mas sim contra a prática deles. Não há problema em ser homossexual, desde que não pratique a homossexualidade, ou seja, um homossexual não praticante.

Por outro lado, o movimento que defende a PL122/06, em especial o movimento LGBT, utiliza-se dos seguintes incisos para validar sua perspectiva:

III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Baseados nos incisos, a argumentação defende que “pregar” contra os homossexuais é submetê-los a um tratamento degradante, até desumano. Isso é violar a imagem e honra das pessoas, menosprezar e tratar de forma vexatória é uma forma cruel de atingir o indivíduo e a lei não deve permitir isso.

Diante desse cenário, onde muitas vezes os extremos são o maior campo de destaque, em especial na mídia, não podemos perceber uma argumentação mais concisa, mais sólida, dado que o que mais tem destaque é uma discussão com trocas de ofensas, sem sentido e confusa.

Mas por um brilhantismo, a contra gosto de toda a expectativa negativa que se tem sobre “famosos” que exercerem cargo público, ouvindo em uma emissora de destaque, pude garimpar na fala do Deputado Federal Jean Wyllys, uma frase brilhante, que chama atenção a algo que até agora, ao menos no ritmo que estou acompanhando, foi inédito, uma referência a dignidade humana, frase que me motivou a escrever sobre tal situação.

Se tomarmos a liberdade de expressão em um conceito puro e simples daquilo que ela representa, todo e qualquer tipo de preconceito poderia ser expresso, estando essa expressão protegida e amparada pela lei, no mesmo artigo já citado (Art. 5º da Constituição Federal). Mas sabemos que tal atitude é repugnada, dado que a tentativa de uma lei é minimizar as intempéries da vida em sociedade e tal atitude só acarretaria em mais caos social. Desta forma, devemos rever o que caracteriza essa liberdade e até que ponto podemos estar amparados pela lei enquanto expressamos nossas perspectivas sobre o mundo?

E ao ouvir a frase já citada, do Deputado, pude considerar que a mesma Constituição que se utiliza atualmente para validar argumentos confessionais em uma sociedade que é laica, serve para demonstrar qual o limite dessa liberdade de expressão:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

O Artigo 1º de nossa constituição demonstra que vivemos em um Estado Democrático de Direito que tem como fundamento, entre outros, a dignidade humana. Creio, em uma interpretação livre, que mesmo que de forma indireta esse é o limite da liberdade de expressão: Não violar os fundamentos de nosso Estado Democrático e entre eles a dignidade da pessoa humana.

Não seria violar a dignidade da pessoa humana, degradar sua condição natural de vida, julgar aberração em quem ela deposita sua afetividade?

Tomemos um conceito simples de dignidade, referindo-se a honra, decência e respeito a si próprio. Admitindo essa definição, mesmo que simplificada ao máximo, podemos dizer que é possível alguém ter dignidade diante de uma degradação de seu eu, de sua identidade, de seus sentimentos?

Creio que se deve lembrar antes de qualquer dogma religioso ou capricho pessoal, que o que está em jogo são pessoas, seres humanos, que merecem o mesmo respeito que todos desejam para si. Temos o direito de não gostar de algo, não concordar com algo e até mesmo protestar contra, desde que nossa liberdade de expressão não agrida a dignidade de qualquer individuo.

Liberdade de expressão não significa poder falar tudo, significa emitir criticas até o ponto anterior a agressão da dignidade humana. Emitir juízos é um direito garantido desde que não esteja atingindo aquilo que é mais valioso em cada individuo, sua dignidade. E para isso, basta que tenhamos em mente uma ideia de um filosofo alemão chamado Immanuel Kant, o Imperativo Categórico, que sugere: “Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal”.


Disponível também em: Revista Acesso Total

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Peripécias da Ignorância


Sentado… No meio da multidão
Ajusto-me confortavelmente a minha poltrona, abro minha mochila
E de lá retiro Werther de Goethe…
Os sofrimentos desse jovem… Ah… Pobre iludido pelos sentimentos…
Distraído por tanta angustia desse Jovem, tão previsível quanto à passagem dos solstícios e equinócios, observo a minha volta…
Lado a lado com Goethe…Uma mulher lendo uma revista..dessas que se fala sobre a vida de (sub)celebridades…
Que tamanha afronta… Goethe pareado com fofocas…
Cansado de sofrer junto de Werther… Cerro meu livro e decido observar a minha volta com mais atenção
Enquanto vibra de emoção ao ler a síntese de sua novela favorita e descobrir com quem tal fulano esta namorando
Uma moça ali perto, elabora um discurso prolongado e de certa forma irritante, sobre as questões expressas na sua novela favorita
Outro, logo ali, brinca com os cadarços de seu tênis…
Cansado e tão entediado quanto ao ler os devaneios de Werther… Retiro de minha mochila… Ecce homo de Nietzsche…
E ao ler sobre moral e vermes… Inevitavelmente ouço essa mulher narrar para sua amiga… Até então calada, ouvindo sua música…
-Olha isso… Que triste… Eles terminaram…
E a amiga responde: - Que triste… Davam-se tão bem, era um casal tão lindo!
Perguntei-me, se as pessoas em questão eram seus amigos ou parentes… Mas logo vi que não… Dei um breve suspiro de tristeza…
E se não bastasse… Retira de sua bolsa um jornal popular… E diz: - Olha quanto morte né?! Que Deus os proteja!
Ora… Tamanho meu espanto… Não teriam avisado aquela pobre mulher interessada nas discussões fantásticas (?) do mundo de suas (sub)celebridades que também Deus havia morrido?
Mas não serei eu a avisá-la, pensei… Não desejo ser o anunciador de trágicas noticias…
Mas foi há tanto tempo…como pudera ela não saber de tal acontecido?
E como pudera Deus cuidar… Se não soube ele se defender de nossas investidas… Que o fizeram perecer… Que nos tornaram responsáveis pela morte dele… Como mesmo afirmou Nietzsche?
Nesse momento, quase próximo a minha parada… Percebi!
Aquela mulher vivia bem assim… A ignorância diante da morte de Deus a faz bem…
Teria o direito de estragar tamanha ignorância, em épocas de pura dissimulação, em tempos Natalinos? Privá-la de não ter esse conhecimento tão angustiante e desesperador?
Eis que a porta se abre… E pensativo me retiro…
É… A ignorância às vezes é um bem!